segunda-feira, 15 de abril de 2013

Poesia


“Nunca engoliste?”

Três dos mais incrédulos pares de olhos que já alguma vez vi fixaram-se em mim. Fixaram-se na minha alma. Em quase 27 anos neste planeta, nunca, por uma ocasião sequer, ingeri sémen de um homem. Sou uma pessoa que partilha demais o que sente, um tipo de pessoa que tem preferências sexuais que a maioria das pessoas considera pervertidas. E, ainda assim, consigo mandar um tiro pela culatra.

“Não sei”, respondi, a olhar para a minha cerveja. “É tipo ostras, ou algo do género. A textura enoja-me por ser tão peganhenta. Sou uma gaja que prefere cuspir.”

Os meus companheiros de jantar rebentaram num riso rouco. O que era assim tão engraçado?

“É na boa”, disse o Noah, a limpar as lágrimas, “mas o que estou prestes a mostrar-te vai mudar a tua vida.” E despejou água num copo.

“Isto”, disse ele, enquanto levantava o copo até aos lábios, “é como tu pareces quando estás à procura de algum sítio onde cuspir.”

Ele deu um gole na água, voltou a cabeça num ângulo de 45 graus, projectou a parte de baixo do maxilar, enquanto abanava a testa, ao mesmo tempo, com um ar enojado. Não parecia bom. Engoliu a água, olhou para mim severamente e disse: “Agora, imagina isto com uma miúda nua, que está a correr para a casa de banho.”

Toda a gente ficou em silêncio por momentos, antes da Ainslie gritar: “É por isso, meus amigos, que eu nunca cuspi!” E toda a gente rebentou, outra vez, num riso frenético.

Nunca gostei da ideia de engolir sémen. E estaria a mentir se dissesse que parte de mim não estava a ser uma mimada do contra. Se um gajo espera, simplesmente, que lhe engulam o sémen, então não vou (claro) corresponder a essa expectactiva. Mais, não acho que engolir tenha de ser uma condição para chupar cacetes. Posto isto, não tenho nada contra a malta que se vem. Acho que é óptimo. Venham-se na minha barriga, no meu rabo, na minha vagina: um gajo a vir-se é o melhor acessório para a nudez. Não é que tenha nada contra engolir. É na boa. Se queres engolir, ou se curtes engolir, então desejo que tenhas muitos copos de nhanha para beber até ao fim da tua vida.

Mas, depois da humilhante imitação que o Noah fez sobre a rapariga-que-cuspe, decidi, calmamente, engolir da próxima vez que fizesse um broche. Tinha de actualizar o calibre dos meus felácios, certo? Depois disso, já estaria pronta para superar o meu medo de alturas. Se conseguisse fazer paraquedismo numa montanha suíça, o que é um pequenino gole de beita, em comparação?

Uns dias depois, lá estava eu, no meio das pernas do meu namorado, a fazer uma destreza de chupamento. Só pensava na parte de engolir, sabia que estava a chegar. Sabia, pela maneira como ele estava a arquear o rabo, que o gajo estava prestes a vir-se. A minha cabeça estava às voltas. Será que teria uma ânsia de vómito quando aquela pasta nojenta chegasse à minha garganta? Será que o devia beijar logo a seguir? Será que esta merda seria boa para a minha pele, ou assim?

“Caralho!”, berrou ele. Um líquido quente deslizou para dentro da minha boca. Foi a primeira vez que o deixei vir enquanto os meus lábios ainda estavam à volta da pila dele. Levantei-me. Num segundo, engoli os resultados da excitação dele, como se fossem um shot de tequila. E… não houve problema. Sabia a… nada. Senti-me… normal. Talvez… a minha pele até melhorasse.

Deitei-me na cama ao lado dele, a rir-me, enquanto imaginava a demonstração de cuspo que o Noah fez no restaurante. “O que se passa?”, perguntou-me o meu namorado, com um ar preocupado. “Qual é a piada? Fiz alguma coisa de errado?” Bem, se calhar, não era a melhor altura para me rir. Aninhei-me nele e beijei-o, ainda meio a sorrir.

“Não, não. Não és tu.” Beijei-o novamente, para que não houvesse dúvidas. “Mas é uma história engraçada, por acaso.”

***

Nunca mais voltei a engolir. Não tenho a certeza se é justo para mim engolir essa coisa, a menos que o gajo também prove. Ou se estiver apaixonada por ele. Quando um desses cenários acontecer, vou ingerir, para sempre e muito feliz, o sumo da pila dele.

A PRIMEIRA VEZ QUE EU ENGOLI

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